O design gráfico suíço
Os períodos de maior destaque das vanguardas artísticas nas artes gráficas da Suíça, na primeira metade do século XX, foram as décadas de 1910 a 1930. Entretanto, o desenvolvimento do design suíço tem suas origens já no século XIX, com a fundação da Escola e Museu de Artes Aplicadas de Zurique, em 1878 e 1879, respectivamente. Um dos nomes marcantes dessas instituições foi o professor de arquitetura Gottfried Semper (1803-1879), que também atuou como diretor do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique. Outro marco para essa área foi a criação da maior empresa distribuidora de artigos publicitários, em 1900, a APG, em Genebra. Na mesma época, estabeleceu-se um formato padronizado dos anúncios para uso externo, os outdoors, o Weltformat, com dimensões de 128 por 90,5 centímetros para os cartazes.
Ernst Keller (1891-1968)
Cartaz de propaganda do tabaco do Brasil, 1938.
Litografia.
Ernst Keller (1891-1968)
Cartaz para o Museu Rietberg de Zurique.
Linoleum print.
Ernst Keller (1891-1968)
Desenhos heráldicos para a cidade de Zurique, 1925.
A primeira aula de design gráfico do ano de 1918, na Escola de Artes Aplicadas de Zurique, foi proferida pelo professor Ernst Keller (1891-1968), que lecionou lá até 1956, e a de fotografia, pelo alemão Hans Finsler (1891-1972). Keller foi de grande importância para as artes gráficas, sendo um dos grandes responsáveis pela chamada “escola suíça de design”. Possuía um estilo inovador, mas sem abandonar elementos da tradição do país. A ele, foi designada a função de realizar desenhos heráldicos para a cidade de Zurique (ver figura acima).
El Lissitzky (1890-1941)
Cartaz para a Exposição Russa no Museu de Artes Aplicadas de Zurique, 1929
Fotogravura, 90.5 x 128 cm.
Hans Neuberg (1909-1983)
Super Bouillon Liebig, 1934
Fotogravura, 90 x 127 cm.
Os artistas suíços tiveram contato com a produção russa em 1929. Nesse ano, houve uma exposição no Museu de Artes Aplicadas de Zurique, cujo cartaz é obra de El Lissitzky (1890-1941), que atuava como emissário da União Soviética (ver figura acima à esquerda). O impacto desse trabalho foi grande, e isso pode ser verificado ao compará-lo com o cartaz de Hans Neuburg (1909-1983) de 1934, o Super Bouillon Liebig, com fotografia de Anton Stankowski (ver figura acima à direita). Neuburg utiliza, também, uma diagonal dividindo espaço compositivo. Essa propaganda trata da divulgação de caldo em cubo desidratado. Para Staber (1993), o uso da comida preparada marcou uma fase do avanço do movimento de liberação das mulheres.
Dora Hauth (1874-1957)
Para proteger o jovem e o fraco, sim para o direito ao voto das mulheres, 1920
Litografia, 80 x 116 cm.
Donald Brun (1909-1999)
Não ao direito ao voto das mulheres, 1946
Litografia, 90 x 127 cm.
Tratando-se também da luta pelos direitos femininos, temos cartazes a seu favor e contra. Dora Hauth (1874-1957), uma das poucas mulheres artistas gráficas, produz um pôster em 1920, com tom sentimental e tradicional, em que se lê “para proteger o jovem e o fraco, sim para o direito ao voto das mulheres” (ver figura acima à esquerda). Já Donald Brun (1909-1999) manifesta sua posição contrária no cartaz de 1946, feito logo após a Segunda Guerra Mundial, que também conta com uma composição marcada pela linha diagonal (ver figura acima à direita).
Ernst Keller (1891-1968)
Zurich Cartaz para o Museu de Artes Aplicadas, The New Home, Furniture Competition, 1928.
Litografia. 90 x 127 cm.
Na passagem de 1920 para 1930, destaca-se a aplicação da nova tipografia, também chamada de funcional, caracterizada pelo uso de linhas, barras, setas, círculos. É um “estilo sem estilo”, puro, visto em trabalhos como o de Ernst Keller, por exemplo, o cartaz para a competição de mobiliário do Museu de Artes Aplicadas de Zurique, de 1928 (ver figura acima).
O contexto político e econômico do mundo se altera na década de 1930. Em 1929, o crash da bolsa de Nova Iorque repercute na Europa. No ano de 1933, Hitler estabelece o III Reich, e Mussolini domina a Itália. Na Suíça, o ano de 1936 marca o pico do índice de desemprego e da desvalorização do franco suíço. Os cartazes, como outros veículos de mídia visual, passam a refletir os medos e as esperanças da população, assim como as tensões e contradições desse período turbulento. A estética nazista é exportada para os países vizinhos, como a Áustria e a própria Suíça.
Max Bill (1908-1994)
Cartaz para a Retrospectiva de Arte Concreta, Kunsthalle Basel, 1944
Linoleum print, 90.5 x 128 cm.
Outro artista que merece destaque é Max Bill (1908-1994), que estudou na Bauhaus no final da década de 1920. Esse artista objetivou divulgar um estilo internacional baseado no funcionalismo e na economia das formas, princípios oriundos de sua antiga escola. Em 1930-31, concebeu seus primeiros cartazes, como o pôster da Exposição de Arte Africana, em Zurique. Em 1940, atua como professor na Escola de Artes Aplicadas. Entre suas inovações destaca-se o uso genérico de letras minúsculas nas inscrições dos cartazes. Seu trabalho para a exposição retrospectiva de arte concreta, na Basel Kunsthale, de 1944, reúne diversos atributos e conquistas da vanguarda (ver figura acima). Seu design construtivo, funcional, com elementos geométricos, é uma tentativa de comunicar sua crença no modernismo como um meio de ordem e de aprimoramento da sociedade, e revela a busca por uma linguagem internacional da arte.
REFERÊNCIAS
Dokumenta 1955 and Ernst Keller, the Pioneer of Swiss Graphic Design. Disponível em: <http://giam.typepad.com/100_years_of_illustration/2007/12/swiss-designer.html> Acesso em: 25 jan. 2016.
STABER, Margit Weinberg. Poster Persuasion. The Journal of Decorative and Propaganda Arts, Vol. 19, Swiss Theme Issue (1993), p .62-83, 1993. Disponível em: <https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B2lsjrWObozUYzMwZjY2MjItZGFkZi00ZjI5LThmOTktZTc4OTUxZTZmOWRh&hl=en_US> Acesso em: 25 jan. 2016.
Tipógrafos. Net. Disponível em: <http://tipografos.net/designers/bill.html> Acesso em: 25 jan. 2016.