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Milenki Matanovic e o Grupo OHO

Francine Kloeckner (2013)

No livro Six years: the dematerialization of the art object from 1966 to 1972, a autora Lucy L. Lippard (LIPPARD, 1997) relata algumas obras de arte conceitual feitas pelo grupo OHO e também uma foto de uma obra feita por Milenko Matanovic.

Milenko Matanovic (OHO group)
String Bending Wheat, 1970

Milenko Matanovic nasceu em 1947, em Ljubljana (antiga Yugoslavia, atual Eslovênia). Ele estudou História da Arte na Universidade de Ljubljana e começou sua carreira nos anos 1960 como artista conceitual, sendo membro ativo do grupo OHO, exibindo arte pelo mundo todo, incluindo o MoMA, em Nova York. Matanovic criava arte conceitual em praças na cidade, leitos de rios, florestas e campos. Trabalhou com muitas formas de artes visuais, inicialmente criando pinturas e objetos em que usava materiais industriais, como espuma de borracha ou caixas usadas de ovos. Mais tarde, ele se envolveu com intalações, videos, happenings e música.

Em sua entrevista para o site artmargins.com, Matanovic explicou que sua arte era improvisação. Usar materiais muito baratos fez com que ele criasse mais rápido. Ele estava mais envolvido com explorações lúdicas do que com teorias. Ele simplesmente confiava em sua intuição e impulso, sem ter medo de experimentar coisas novas:

Acendi velas em um campo, dispostas para espelhar as estrelas no céu. Eu coloquei uma linha de corda e madeira em um rio para ajudar as pessoas a ver as correntes invisíveis. Eu explodi uma bomba de fumaça em uma galeria para recriar o sentimento que eu tive assistindo a nuvens na minha primeira viagem de avião. Como Moisés, eu separei um campo de trigo com uma corda. Eu organizei um grande grupo de amigos para congelar em um sinal, assim criando confusão nos cidadãos da minha cidade natal, Ljubljana. Eu andei centenas de vezes sobre o mesmo terreno para forjar um novo caminho. Eu exibi o pôr-do-sol. Você entende a ideia. Eu joguei com brincadeiras e intervenções que visavam confundir ou iluminar, dependendo da situação. [1]

Nota 1

Mesmo com seu sucesso como artista, Matanovic tornou-se cada vez mais desiludido com a separação entre arte moderna e as preocupações cotidianas. “Eu sempre fui interessado em empurrar a arte na vida (e não em galerias, coleções particulares e museus). Eu saí da rede de arte moderna porque parecia, na época, um beco sem saída no sentido de impactar a vida diária” [2].

Um dia, saindo de um museu em que uma instalação do seu trabalho estava sendo apresentada, Milenko experimentou um ponto de reflexão crucial. Ele ficou tão impressionado com a dissonância entre o interior do museu e o mundo exterior que ele, literalmente, caminhou para longe de sua carreira como artista. Então, aos 24 anos, sentindo que a sua carreira como artista não estava mais ajudando a empurrar a arte e seu fazer na vida diária, Matanovic deixou o grupo OHO e começou a tentar aprender como a arte poderia servir melhor uma comunidade. Isso o lançou em um período de reavaliação, que o tirou no mundo convencional da arte por 15 anos. No final desse período, ele surgiu dedicado a explorar maneiras de praticar a sua arte que teriam um impacto positivo no mundo.

Milenko Matanovic se descreve hoje como um “artista em recuperação”. Em 1986, ele fundou a Pomegranate Center, cuja missão tem sido a de desenvolver um modelo eficaz para ajudar as comunidades a se preparar para o futuro usando a criatividade coletiva, o engajamento significativo e a poderosa colaboração. Cada comunidade torna-se um novo tipo de "estúdio", onde a arte, a colaboração e a construção de comunidades convergem. Ele acredita que magia acontece quando a arte, o pensamento criativo e comunidades unem forças.

Milenko hoje é autor de três livros e discursa e se apresenta em vários eventos e conferências nos Estados Unidos e no Canadá. Ele tem trabalhado com centenas de comunidades em todo o país e no exterior, colabora com as comunidades para a construção de mais de 50 locais de reunião; fala em universidades, encontros comunitários e conferências e treina líderes comunitários notáveis a partir do modelo do Pomegranate Center de construção da comunidade. Conectar arte com a construção da comunidade e da vida cotidiana é apenas uma das maneiras de Milenko usar sua criatividade para preparar as comunidades para o futuro. Ao combinar seus talentos como um pensador, educador e artista, Milenko espera criar um mundo onde nem a natureza nem os talentos humanos sejam desperdiçados. Ele vive para ajudar as comunidades a se tornarem mais sábias, trabalhando em conjunto para encontrar novas e criativas maneiras para empurrar as boas ideias em ação.

 

OHO GROUP

Baseado em Ljubljana, o Grupo OHO foi ativo no período 1965-1970 e consistia de Milenko Matanovic, David Nez, Marko Pogačnik e Andraž Salamun. O grupo pertencia ao Movimento OHO, um círculo esloveno maior de intelectuais e artistas. Esse grupo de jovens poetas, artistas visuais e cineastas insatisfeitos com a vida, da civilização e da arte do dia, sobretudo as de sua sociedade socialista, evoluiu para o mais importante movimento artístico da época. Os numerosos membros do Grupo OHO estiveram envolvidos em todos os aspectos das práticas artísticas contemporâneas: arte conceitual, performances, happenings, poesia concreta e visual, arte postal, arte povera, filme experimental e outros, publicaram os livros OHO e colaboraram em inúmeras revistas. O grupo usou um grande número de mídias, desenhos, fotografias, filmes, vídeos, música, textos, mas também uma maneira de se vestir, viver e se comportar. Suas práticas e procedimentos artísticos foram desenvolvidos espontaneamente, de forma autônoma e simultaneamente com as tendências da cena artística internacional, tornando OHO um participante ativo na formação da linguagem da arte contemporânea.

O auge do sucesso artístico do OHO foi a exposição no MoMA, em 1970, altura em que os membros do grupo perceberam que, contra a sua vontade, eles se tornaram uma parte do estabelecimento cultural e conscientemente decidiram encerrar suas atividades artísticas. Originalmente, os membros do núcleo do OHO foram Marko Pogačnik, Iztok Geister Plamen e Marjan Ciglič. Graças ao seu programa aberto, esse núcleo foi rapidamente acompanhado por outros membros ativos: Milenko Matanovic, Andraž Salamun, Tomaž Salamun, David Nez, Matjaž Hanzek, Nasko Križnar, Vojin Kovač Grande, Aleš Kermavner, Franci Zagoričnik, Marika Pogačnik, Zvona Ciglič , Srečo e Nusa Dragan, Ivo Volarič-Feo, Slavoj Žižek, Braco Rotar, Bojan Brecelj, Drago Dellabernardina, Dimitrij Rupel, Rudi Šeligo e outros.

Em sua próxima fase, os membros do Grupo OHO desistiram de trabalhar no sistema de arte e fundaram uma comunidade na aldeia de Šempas, no Vale do Vipava, na Eslovênia, porque eles queriam estabelecer uma aproximação mais intensa com a natureza e trabalhar como grupo em harmonia com o meio ambiente e os cosmos. Sua atividade artística não cessou nessa nova configuração, mas se tornou mais diretamente ligada ao seu dia a dia.

Logo, Marko Pogačnik e sua família eram os únicos na comuna. Eles juntaram-se, no entanto, com novos membros. Chamando-se "a família Šempas", os membros dessa comunidade trabalharam no desenvolvimento de uma nova forma de espiritualidade total e de uma relação alternativa para o planeta Terra e a natureza. De tempos em tempos, a família Šempas também mostrava o seu trabalho no contexto do mundo da arte institucional.

David Nez, Milenko Matanović e Marko Pogačnik ainda estão trabalhando ativamente nessa direção hoje. Todos eles encontraram maneiras de incutir a consciência sobre a importância das dimensões espirituais e ritualísticas da existência humana em suas próprias práticas de vida. Embora ainda intimamente envolvidos com a arte, agora estão principalmente preocupados com o trabalho com e para as comunidades.

 

REFERÊNCIAS

LIPPARD, Lucy L. Six years: the dematerialization of the art object from 1966 to 1972. Berkeley: The University of California Press, 1997.

MILENKO Matanovic. In: THE VIRTUAL Museum of Avant-Garde. Disponível em: <http://www.avantgarde-museum.com/en/museum/collection/4554-MILENKO-MATANOVIC/>. Acesso em: 29 set. 2013.

MILENKO Matanovic, community-based planner, answers questions. 2005. Disponível em: <http://grist.org/article/matanovic/full/>. Acesso em: 29 set. 2013.

OHO after OHO – Museum of Contemporary Art, Zagreb, September 4th 2010. In: BRACELJ, Bojan; OGRAJENŠEK, Robert. Selffish portrait studios: [blog]. Liubliana, 2010. Disponível em: <http://selffishstudios.com/2010/09/07/oho-after-oho-museum-of-contemporary-art-zagreb-4-9-2010/>. Acesso em: 29 set. 2013.

Pomegranate Center. [Official site]. Disponível em: <http://www.pomegranatecenter.org>. Acesso em: 29 set. 2013.

THE CLANDESTINE Histories of the OHO Group. Disponível em: <http://kuda.org/en/clandestine-histories-oho-group>. Acesso em: 29 set. 2013.

 

ŽEROVC, Beti. The OHO Files: Interview With Milenko Matanović, ARTMargins Online,  24 august 2011. Disponível em: <http://www.artmargins.com/index.php/interview-with-milenko-matanovi>. Acesso em: 29 set. 2013.

 

NOTAS

[*] Bacharela em História da Arte pelo Instituto de Artes (UFRGS). (voltar ao texto na nota de autor)

 

[1] Excerto de entrevista publicada no site http://grist.org/article/matanovic/full/. Tradução livre de: “I lit candles in a Field, arranged to mirror the stars in the sky. I placed a line of string and Wood into a river to help people see the invisible currents. I exploded a smoke bomb in a gallery to recreate the feeling I had watching clouds on my first airplane ride. Moses-like, I parted a wheat field with a string. I organized a large group of friends to freeze on a signal, thus creating puzzlement in the citizens of my native city of Ljubljana. I walked hundreds of times over the same terrain to forge a new path. I exhibited the sunset. You get the idea. I played with pranks and interventions that aimed to confuse or illuminate, depending on the situation”. (voltar ao texto na nota 1)

[2] Ibid. Tradução livre de: “I’ve always been interested in pushing art into life (rather than into galleries and museum). I dropped out of the modern art network because it looked, at the time, like a dead end as far as impacting daily life”. (voltar ao texto na nota 2)

COMO CITAR ESSE TEXTO
 
KLOECKNER, Francine. Milenki Matanovic e o Grupo OHO. HACER - História da Arte e da Cultura: Estudos e Reflexões, Porto Alegre, 2016. Disponível em: <http://www.hacer.com.br/#!matanovic/f3efx>. Acesso em: [dia mês. ano].

Nota 2
Notas
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